Agro: Perspectivas para o setor Sucroenergético em 2024

Reflexões dos fatos e números da cana em novembro/dezembro e o que acompanhar em janeiro

*Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Vinicius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande.

Na cana, a moagem na região Centro-Sul atingiu 619,26 milhões de t na posição acumulada da safra 23/24 até 1º de dezembro, o que equivale a um aumento de 15,94% em relação ao mesmo período do ciclo passado, segundo a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). Olhando apenas para a segunda quinzena de novembro, a moagem aumentou 46,14%, resultando em 23,90 milhões de t processadas.

218 unidades operaram até a segunda quinzena de novembro no Centro-Sul do país, sendo 201 com processamento de cana, 8 de milho e 8 flex. No mesmo período da temporada anterior, apenas 141 estavam em operação. Enquanto em 2022/23, 178 usinas já haviam terminado de operar, na safra atual esse total é de apenas 78, no entanto, espera-se que nos primeiros 15 dias dezembro mais 98 unidades encerrem a safra.

Em relação a qualidade da matéria-prima, o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado da temporada 2022/23 alcançou o valor de 140,25 kg/t (-0,61%), enquanto na segunda quinzena de novembro foi de 132,07 kg/t (-5,40%). Já o mix de produção ficou em 49,32% para o açúcar e 50,68% para o etanol.

Segundo dados da B3, foram emitidos 32,43 milhões de CBios (Créditos de Descarbonização) até o dia 8 de dezembro, sendo que cerca de 26,75 milhões de créditos de descarbonização são da parte obrigada do programa RenovaBio.

A safra 2023/24 de cana-de-açúcar na região Centro-Sul apresentou uma produtividade média de 89,3 t/ha até outubro, 21,5% superior a temporada anterior. Em outubro, a produção foi de 77,3 t/ha, um aumento de 14,5%. Os maiores crescimentos foram observados em Araçatuba (38,6%), Piracicaba (27,2%) e São José do Rio Preto (26,6%). A qualidade da matéria-prima (ATR) em outubro superou a média da safra anterior.

A StoneX prevê que a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul atingirá 628,8 milhões de t em 2024/25, queda de 2,2% em relação ao ano anterior devido a produtividades menores. A consultoria estima uma redução de 5% no TCH médio, mas ainda 8,3% acima da média das últimas cinco safras. A área canavieira deve se recuperar, e a produção de açúcar pode alcançar um novo recorde de 43,2 milhões de toneladas, com maior destinação de cana para açúcar. A produção de etanol do Centro-Sul em 2024/25 é estimada em 32,2 bilhões de litros, queda de 2%. Enquanto a produção de etanol de milho deve crescer 16,7% para 7 bilhões de litros, a do etanol de cana pode cair 6,1% para 25,2 bilhões de litros.

No açúcar, a produção desde 1º de abril deste ano foi de 40,82 milhões de t, com um crescimento de 23,50% (33,05 milhões de t em 2022). Na segunda quinzena de novembro, o aumento foi ainda maior, de 35,03% totalizando 1,40 milhão de t. Apesar do avanço, o mix produtivo nos últimos 15 dias de novembro foi maior para o etanol, o que já é esperado nesse momento do ciclo, quando a qualidade da matéria-prima é menor e o ATR tem maior nível de açúcares redutores que dificultam a produção do adoçante. Dados também da Unica.

No mês de novembro, o Brasil exportou 3,68 milhões de t de açúcar (+ 10,2%) e registrou receita de US$ 1,91 bilhão (+ 37,4%), o que resultou em uma média diária embarcada de 184,2 mil t a um preço médio de US$ 518,60/t (+ 24,0%). No acumulado de 2023 (janeiro a novembro), o Brasil exportou 27,5 milhões de t (+ 9,7%) do adoçante e arrecadou US$ 13,64 bilhões (+ 35,7%).

O governo indiano instruiu usinas de açúcar a evitar o uso de certos derivados para a produção de etanol, visando aumentar o suprimento de açúcar. A medida busca conter o desvio de cerca de 2,14 milhões de t de açúcar para a produção de etanol, por conta da escassez do adoçante causada por chuvas irregulares em importantes regiões produtoras. A Associação Indiana de Usinas de Açúcar prevê uma queda de 8% na produção de açúcar para 33,7 milhões de t em 2023/24, o que vem elevando os preços locais para os níveis mais altos em 14 anos.

Como resultado ao comportamento da Índia, os preços do açúcar têm acumulado quedas nas últimas semanas. No fechamento da nossa coluna, o contrato de março/2024 estava negociado em 22,47 centavos de dólar por libra-peso, o menor valor em mais de 5 meses; há 30 dias, a cotação superava os 27 cents/lb. Em Londres, o açúcar branco de março/2024 estava negociado em US$ 619,70/t.

No mercado interno, o Cristal Branco em São Paulo, de acordo com o Cepea/Esalq, apresentava preços de R$ 154,00/sc (50kg), uma retração mensal de 0,6%; ou US$ 31,02/sc na cotação em dólar.

No etanol, foram fabricados 1,25 bilhão de litros (+39,91%) na segunda quinzena de novembro. Já no acumulado desde o início da temporada 2022/23, a produção foi de 29,85 bilhões de litros (+11,87%), sendo 17,71 bilhões de etanol hidratado (+14,74%) e 12,14 bilhões de anidro (+7,94%). Até 1º de dezembro, a produção de etanol de milho foi de 4,05 bilhões de litros, aumento de 42,0% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A comercialização acumulada da safra 2023/24 totalizou 21,04 bilhões de litros, alta de 5,79%. Desse total, 8,64 bilhões de litros correspondem ao anidro (+ 3,67%) e outros 12,40 bilhões de litros ao hidratado (+7,32%), segundo a Unica. Em novembro, as vendas alcançaram 2,82 bilhões de litros, alta de 16,13%, sendo que 1,11 bilhão de litros correspondem ao anidro (+0,94%) e 1,72 bilhão de litros ao hidratado (+28,61%).

E com a insegurança relacionada a demanda global de petróleo, os preços do barril despencaram nos últimos dias. Na data fechamento da nossa coluna, o Brent Crude estava cotado em US$ 73,84/barril, queda mensal de 13,7% (era de US$ 85,52/barril há um mês). Este é o menor valor desde 27 de junho deste ano. Já o WTI Crude estava em US$ 69,12/barril, queda mensal de 11,7%.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre a semana dos dias 3 a 9 de dezembro, o preço médio da gasolina no Brasil estava em R$ 5,62/l. O maior preço encontrado nos postos foi de R$ 7,70/l e o menor, das revendas, era de R$ 4,55/l.

No etanol, os preços disponibilizados pela SCA eram de R$ 2,400/l para o hidratado e R$ 2,420/l para o anidro, ambos considerando a cidade de Ribeirão Preto (SP) como referência e com impostos já contabilizados.

A Coamo Agroindustrial, de Campo Mourão (PR), anunciou que vai investir R$ 3,5 bilhões nos próximos 3 anos, sendo que R$ 1,67 bilhão será destinado para construção de uma usina de etanol de milho (exclusiva) na cidade de sede da cooperativa. A Coamo projeta que 20% do milho recebido pela cooperativa virem biocombustível, agregando maior valor aos seus produtos e cooperados.

Valor do ATR: em novembro, o valor do Açúcar Total Recuperável (ATR) registrou leve queda em relação ao mês anterior, de 0,2%, fechando em R$ 1,2346/kg. No histórico de 2023/24, temos: abril estava em R$ 1,2129/kg; maio em R$ 1,1943/kg; junho foi a R$ 1,2223/kg; julho, R$ 1,2153/kg; agosto chegamos a R$ 1,1930/kg; em setembro, R$ 1,2051/kg; outubro, R$ 1,2376/kg; e em novembro, ficamos em R$ 1,2346/kg. No acumulado da safra em andamento, os preços estão em R$ 1,2257/kg. Deve permanecer em torno de R$ 1,22 e R$ 1,12/kg, que é o que sugerimos aqui ao longo deste ciclo.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em janeiro na cadeia da cana:

  • Fechamento da safra 2023/24 na região Centro-Sul do Brasil. Neste ano, a operação de moagem segue até meados de dezembro, com mais de 200 usinas ainda em operação no início deste mês. Agora, com o término das operações, vamos avaliar quais serão os números finais de produção/produtividade das lavouras e da indústria; mas, já é certo que o resultado foi positivo.

  • Clima no Brasil impactando os canaviais e os resultados da safra 2024/25. O alto volume de chuvas tem ajudado bastante, mas ainda existe a incerteza com a intensidade do El Niño e agora os primeiros sinais de formação de La Niña; lembrando que este último pode trazer altas temperaturas e secas severas. Em 2023/24, a produtividade das lavouras de cana cresceu 21,5%. Vamos torcer para que permaneça em níveis elevados no próximo ano.
  • Observar as perspectivas e números da safra 2024/25, com foco no comportamento das usinas em relação ao mix produtivo (o açúcar deve superar os 50%, segundo a StoneX, e alcançar produção recorde de 43,2 milhões de t). As previsões seguem apontando para uma moagem entre 610 e 620 milhões de t e acreditamos que fique neste patamar.
  • As movimentações no mercado do açúcar. Depois de um longo período no “andar de cima”, os preços do desabaram neste último mês, com o estímulo à produção do adoçante na Índia. Embora uma boa parte do açúcar a ser produzido na próxima safra já tenha sido fixada, a tendência é de novas quedas ou, pelo menos, uma manutenção dos preços acima dos 20 cents/lp.
  • Por fim, no etanol, avaliar os impactos do cenário de baixa no petróleo, nos preços e competitividade do biocombustível. Após a baixa mensal de 13,7% nos preços do petróleo (Brent), a Petrobras deve anunciar um novo corte de 8,0% na gasolina neste início de dezembro. Cenário triste para o etanol, como já era esperado. Vamos acompanhar os próximos episódios.

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

*Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.

*Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

Fonte: doutoragro.com.br

Foto: EBC Brasil.

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